Portugalidade

Faz parte do ser-se português esta coisa do desdenhar de nós próprios, não é verdade?  Mesmo quando os de fora nos reconhecem como os melhores do mundo, cá no burgo há sempre aqueles velhos do Restelo que estão prontos a apontar o dedo. É assim com o Cristiano Ronaldo, que anda nisto há anos, porque não havia de ser assim com o Salvador Sobral?

O miúdo ganhou o Festival Eurovisão da Canção. Destacadíssimo. Lá fora, só elogios. Cá dentro o que é que eu oiço? Que a música é poucochinha, que a letra é absurda, que o miúdo é cheio de tiques e sobranceria, armado em bom, enfim, todo um contrariar o que considerou a maioria (entendida no assunto, by the way).

Eu não acho o Salvador Sobral sobranceiro ou arrogante. Acho que ele ainda agora chegou aos holofotes e está só a ser abalroado pelas correntes já instituídas e, na resposta, misturou honestidade com falta de jeito (ou de calo), no máximo misturou genuinidade com inpulsividade. Além de que nada do que disse é mentira. Ah, e sim, podia ter uma imagem mais cuidada. Mas desde que a saia de tule aos folhos verde fluorescente da Dora foi admitida no concurso, tudo o resto é bom gosto.

Quem está numa de deitar abaixo há de sempre encontrar por onde. Em calhando, quem diz que a música não presta e que não é festivaleira é também quem dizia noutras alturas, na altura do “peguei, trinquei, meti-te na cesta”, que se devia deixar o pop e ir antes por esta linha de interpretação. Aproveitai a onda de fé da data em que tudo isto se passou, o mesmo 13 de maio da canonização dos pastorinhos de Fátima com a presença do Papa Francisco, no centenário das aparições de Maria aos meninos, e ide antes amar por dois, ó lambedores de feridas!

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