O balcão da receção principal forrado a couro, pessoas que falam baixo, as assistentes que saem de trás do balcão e acompanham os clientes até à sala de espera, as televisões LED e as revistas executivas no dispensador, o trato por doutores e engenheiros para chamar para os gabinetes – “doutor fulano de tal, por favor, por aqui”, “senhor engenheiro sicrano?” – não me lembro de ter visto isto antes. Da mesma maneira que achei parvo que me perguntassem no banco se queria os meus cartões com “dra” antes do meu nome, ali, naquela sala de espera, aquilo também me estava a soar a algo-fora-do-sítio. Até porque não condizia com o cenário, que era o de uns 50m2 de cadeiras enfileiradas e quase todas ocupadas por pessoas que bufavam e se remexiam por atrasos de cerca de uma hora, tal qual o Centro de Saúde de Sete Rios como o vemos na tv quando há notícias de greves da função pública.
Fiz a operação a laser para deixar de ser míope em novembro de 2001. Esta semana fui à consulta de seguimento, não um, mas quase 14 anos depois. :D
Desculpei-me bajuladora: “oh doutor, isto só significa que fez um bom trabalho porque eu nunca senti que precisasse de cá vir, pronto, deixe lá isso!”
“Então e o que a traz cá?”, enquanto me sentava na cadeira e me punha aquela geringonça para tapar um olho de cada vez e ler as letras num quadro projetadas na parede ao fundo.
“eh, sei lá, olhe, achei que devia ver como é que isto está. Lembro-me sempre de me dizer que a operação não faz milagres e que lá pelos 40, 50, havia de sentir a visão a precisar da bengala dos óculos, enfim…” (“E, I, F, H, O, G”) “… e depois, agora que tenho uma bebé, não sei, parece que quando a tenho ao colo, quando a estou a embalar ou a amamentar, ’tá a ver?, assim mesmo pertinho de mim, parece que preciso de focar melhor, não sei, dou comigo a ter que piscar…”
“Isso é só amor de mãe! Os seus olhos estão ótimos, você lê até as facultativas [as letrinhas mais pequeninas lá na parede], a pressão ocular está ótima…” – passa-me um papel (emoldurado!) para as mãos onde estavam vários parágrafos escritos com tamanhos de letra diferentes – “leia lá aqui [o parágrafo em arial 8]…”
“certo dia…”
“Não brinque comigo! Venha cá daqui a mais 14. Um beijinho” (só um, mesmo)
Nota mental: sempre que me quiser sentir jovem, marcar oftalmologista. Até lá, passar a dar de mamar com a criança ao colo, não no ombro!
Já o meu, disse-me, assim mesmo: “… pois a idade não perdoa!!!” Gggrrrrrr
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este também me disse isso há 14 anos, para eu não ir iludida para a operação. e eu, tudo bem, baixei as expectativas. mas afinal ainda está dentro do prazo.
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