Go, Gugu, go!

Ontem não tive tempo para escrever porque Gugu só falou às cinco e eu tenho os filhos depois disso, mas esteve lindamente, não esteve? Epa, ca ganda orgulho para a nação! Melhor que um português ter ganho o cargo de SG da ONU, só um português a ser o melhor do mundo na bola! Melhor que a Secretaria Geral da ONU, só ter ganho o Euro! E no mesmo ano, caneco, somos muita bons! E isto já se nos está nos genes desde a época áurea dos Descobrimentos, tenho eu pra mim.

Agora a sério: estou genuinamente feliz com esta eleição. Que ninguém diga à minha frente que isto não é um prestígio brutal, tanto para si próprio como para todos que falamos a língua de Camões e temos a noção da nação. Mal me lembro daquela noite das autárquicas em 2001 em que o PS perdeu historicamente e ele se demitiu para “evitar que o país caísse num pântano” (inevitável pensar nesta atitude e comparar com a de Costa em 2015…), palavras do próprio, e que o sucessor Durão Barroso lhe recordou com o célebre “o senhor deixou o país de tanga”.

A ideia que eu tenho daqueles tempos de governação frouxa, pouco assertiva, quando bastava uma ameaça de greve para que o PM desse o dito pelo não dito, é a de que António Guterres será um homem de diálogo, com franca dificuldade de dizer não a alguém. Se, a nível interno, não é nada bom termos um líder hesitante, no plano internacional esta caractaristica acaba por ser uma alavanca para a conciliação, que será justamente o que mais se esperará dele enquanto SG da ONU.

Também sei (porque sou amiga de quem morou em sua casa e porque conheço quem fosse seu próximo a nível político – e não estou a falar dos seus “formandos” Sócrates – quem em termos de carácter em nada se lhe compara – Seguro ou Costa) que António Guterres é um homem bom. Só um homem bom consegue desempenhar o papel de Alto Comissário para os Refugiados com reconhecido mérito. Não é matéria fácil, emocionalmente falando, e não é matéria fácil de resolver porque os países não têm o drama dos refugiados como prioritário na agenda.

Lembro-me de se começar a alvitrar o nome dele para a corrida à Presidência da República, aqui há um ano e meio. Não teria sido mau mas, convenhamos, quem tem um cheirinho da vida internacional já dificilmente encontra em casa alguma coisa que lhe encha as medidas. Quando se anunciou a campanha para o cargo de SG da ONU, lembro-me daquilo me parecer algo inalcançável, particularmente porque tudo indicava que se havia de favorecer uma candidatura de uma mulher. Mas eis que não, eis que as formiguinhas do MNE foram fazendo um trabalho fantástico de campanha e troca de apoios, eis que o portuguesinho foi ganhando as votações uma a uma e acaba mesmo por ser o favorito nesta corrida à Secretaria Geral da ONU. Motivo orgulho para estes 10 milhões, sem dúvida, que até já lhe perdoaram a fama de despesista.

Trabalho com agências sectoriais das Nações Unidas (como é o Alto Conissariado para os Refugiados, por exemplo) e sei, por experiência própria, que o Secretário Geral não é quem manda, quem manda são os países e que estes dependem só da sua vontade, não há Direito Internacional que nos valha contra a soberania de um Estado. Mas também sei que o trabalho das Nações Unidas será tanto mais bem sucedido quanto melhor for o desempenho do Secretariado Geral, que faz a ponte entre todos os intervenientes. Não tenho dúvidas de que o perfil de António Guterres e a sua experiência no contexto internacional contribuirão  positivamente para que as relações entre os estados fluam.

É um grande prestígio para António Guterres hoje e para Portugal a longo prazo, sim senhor e foi o melhor que ele fez, foi  distanciar-se das tricas da vida política interna!

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