Eu não adorei a minha experiência em Istambul. Ia sozinha (em serviço), toda ocidentalizada no exterior, madeixas loiras para cúmulo, toda eu uma afronta. Lembro-me de ainda andar à procura da saída no aeroporto, aquele que ontem foi alvo de mais um ataque terrorista, e de me sentir assaltada sem que me tocassem. Um homem chegou mesmo a aproximar-se de mim resmungando palavras que nunca conseguiria entender mas cuja postura corporal de desdém e nojo para comigo era óbvia. Creio que cuspiu para o chão ao cruzar-se comigo. Não vi senão uma meia dúzia de mulheres ali naquele ambiente multinacional, todas tapadas. Tive dificuldade em encontrar um táxi, ninguém falava inglês e os que falavam recusavam-se a falar comigo. No hotel (de topo), era sempre a ultima a ser servida, um claro contraste com as regras sociais ocidentais. Lembro-me de olhar para o prato, só conseguir reconhecer os ovos, e pensar “mas como é que esta gente quer tanto a integração na UE quando nada, absolutamente nada é comum com o resto da Europa, nem cultura, nem religião, nem valores, nem sequer a comida?!” Foi esta a minha primeira impressão sobre os turcos.
Não nego a beleza da Mesquita Azul e do Bazaar e a maravilhosa sensação de estar no meio do Bósforo e conseguir alcançar com a vista a Europa de um lado e a Ásia do outro. Mas, acredita, o relato de um turista que vai em excursão de grupo ou de uma mulher que vá com o seu marido é necessariamente condicionado pela sua circunstância de turista e não será capaz de captar a verdadeira essência do que ali se passa.
Há mais de um ano que ando atenta a todos os atentados suicidas, bombardeios, explosões e afins que se passam na Turquia porque sei, desde há 4 anos, que é lá que se reúnem delegados de uma organização internacional que acompanho, gente de todo o mundo, em setembro deste ano. Portanto tenho estado atenta e garanto-te que, só a avaliar pelo que cá chega (que será sempre menos e menos reportado do que o que na realidade se passa), há aí cerca de uma explosão e mortos por mês! Este mês, já é a segunda.
A de ontem foi mais grave porque foi no aeroporto internacional, porque correu mal (os atacantes foram apanhados e baleados pela polícia) e porque se filmou o suicida no momento em que se explidiu. Mas não me choca. É – lamentavelmente – só mais uma. A merda é que estão mesmo aqui à porta e, ainda por cima, a organizar eventos internacionais, pagando despesas a todos, aliciando delegados de todo o mundo e das mais diversas áreas para a Turquia em setembro. Quantas pessoas conheces tu que estejam para ir a um congresso ou conferência ou convenção na Turquia este ano? Eu, várias.
Ou sou eu que ando a ver muito Fox Crime e já estou a desenvolver uma teoria da conspiração, ou isto traz água no bico…
a dos coelhos 