As festas de aniversário dos miúdos, hoje em dia, estão corrompidas, digo eu.
Eu vivi toda a vida a fazer anos durante as férias do Natal e dava graças a Deus por sequer ter amigos na minha festa, que o normal era irem “para a terra” passar o Natal. Festa essa que era em casa, claro está. Com bolos caseiros, ratos (lembro-me tão bem!) feitos de metades de pera que a minha mãe enfeitava com rabos, olhos e orelhas, com petiscos para adultos também, tudo preparado pela minha mãe, avós e tias! Quem vinha trazia-me um presente (a família até nem isso, porque sou daquelas que ouviu sempre o clássico “este é de natal e de anos, está bem, querida?” e portanto o meu presente de anos imiscuía-se no de Natal, passado havia um par de dias). Brincávamos muito lá por casa, zangávamo-nos, eu fazia birras do género “eu é que sou a dona da festa e portanto é como eu digo ou ninguém brinca”, iam todos para casa no fim e eu ficava feliz e contente, a comer as sobras com a família até ao fim de ano!
Hoje em dia, num misto entre o jeito que dá alugar um espaço onde se concentra brincadeira e lanche e não se tem lavar loiça nem arrumar no fim e o marketing brutal que há em torno deste pequeno mercado que é o de animar festas de pequenos Bolsonarozinhos, os pais preferem pagar e ter a festa montada tipo chave na mão.
Tudo bem.
Mas há coisas que me encanitam. Pra já, os brindes. Parece que hoje em dia o aniversariante também tem que presentear os seus convidados. Dar-lhes saquinhos com brindes – e vá lá que já não se vai usando tanto os sacos com gomas e chocolates! – sejam fresquinhos de bolinhas de sabão, sejam canetas e lápis de cor, sei lá, coisas. Coisas que se metem dentro de saquinhos antecipadamente comprados alusivos ao tema da festa (hoje em dia todas as festas têm tema) e que se distribuem no fim da festa em jeito de agradecimento por se ter comparecido. Caramba. Mas a diversão que se proporcionou não é suficiente? Acho tonto.
Mais tonto ainda acho esta mania de não deixarem as crianças abrir os presentes. Eu percebo que os senhores dos espaços alugados preferirão ter todos os embrulhos arrumados a um canto longe de poderem distrair as crianças das atividades que têm à disposição. Também percebo que os pais prefiram ter todos os presentes num saco pronto a levar para casa onde, mais tarde, e provavelmente ao longo do ano, vão doseando a entrega. Até compreendo que prefiram verificar se querem fazer alguma troca na discrição do lar em vez de se denunciarem logo à frente de quem oferece o jogo repetido, a t-shirt muita feia ou o livro a que pequeno Bolsonaro não ligou nenhuma. Mas, caramba, quem oferece gosta de dar e de perceber se fez o outro feliz!
A Júlia voltou de uma festa este fim de semana triste porque não pôde entregar o presente à menina que fazia anos. Os animadores do espaço ter-lhe-ão dito que a aniversariante abriria os presentes depois. Acho que a minha filha ainda fez outra tentativa junto da mãe da menina mas sem sucesso. E vinha triste com isso. Divertiu-se na festa, diz que adorou. Mas… queria ter dado o presente à C.
Pais. Por favor. Se educam os vossos filhos a serem agradecidos, a receber algo e a dizer obrigado, façam também questão que o abram enquanto a pessoa que o escolheu dedicadamente a pensar neles está presente, sim? E se forem os senhores do espaço a condicionar isso, concedam uma meia hora antes da festa começar para irem recebendo as pessoas, abrindo os presentes, agradecendo e colocando-os no carro para então depois não interromperem as diversões. Tá bom? Obrigada!
Pela minha parte, enviei uma mensagem à mãe da C. a agradecer a festa e a pedir, em podendo, que nos dissesse se a C. tinha apreciado as bandoletes brilhantes que a Júlia tinha escolhido a pensar nela “a C. gosta de bandoletes, ela não usa laço [como eu]!”…
Tão doce a nossa Jules!!! Também já nos aconteceu, com um amiguinho da sala, e a Rosarinho também estranhou e ficou sem perceber se o amigo tinha gostado do presente…sou fã das festas “vintage”!
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Oh… que saudades desses ratinhos de pera.
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