Diz que, quando chega a altura de pensar em atividades extracurriculares, o ideal é a natação porque faz bem a tudo (!) e uma arte marcial, principalmente se forem pequenitos (4, 5 anos, vá. antes disso também não vejo como é que precisam de atividades extra, mas isso sou eu.) porque ainda estarão muito na fase egocêntrica do “eu, eu, eu” e as artes marciais ensinam-lhes valores de respeito – pelos outros e pelas regras – de disciplina, autoestima, honestidade e de autocontrolo, tudo isto disfarçado de lutas, que é do que eles gostam. É perfeito!
Lá em casa começámos com o judo e este ano temos o taekwondo. Tenho assistido encantada a algumas aulas e adoro o “grito”: “Eu vou ser uma boa pessoa, com conhecimento na cabeça, honestidade no coração, força no meu corpo, fazer bons amigos e ser um fantástico cinto pretooooooo!” Não é lindo? E eles, pequenitos, com as mãos ainda sapudinhas a levarem-nas ora à cabeça, ora ao peito, ora fazendo músculo… a coisa mais querida!
Ora o que é que sucede? Sucede que numa das últimas aulas, o meu filho Manel, munido do seu pensamento crítico e do espevitanço e falta de vergonha que o caracterizam e que me enche de orgulho, diz assim para a instrutora, cabecinha virada para cima, olhos a brilhar de quem teve uma ideia: “Nós não devíamos dizer ‘Eu vou ser uma boa pessoa‘, porque então é sinal que não somos! Nós devíamos dizer ‘Eu sou uma boa pessoa‘.” Ela calou-se e eu senti aquela necessidade de rir um bocadinho e de dizer coisas como “ahah… bom, não deixa de ter razão, não é verdade?… estas crianças… tão perspicazes… ahah….“, a ver se saía daqueles dois ou três segundos constrangedores em que ela não dizia nada, sabes? Quando ela finalmente disse qualquer coisa foi de telefone em punho: “Senhor Manel, [tratam-se por senhores e senhoritas!], importa-se de repetir e que eu o grave?” E assim foi.
Ontem disse-me o que fez com o filme: levou-o ao fundador da academia, tiveram todos uma reunião e daqui a uns dias, no dia do grande evento que a academia organiza para as demonstrações, hão-de passar o vídeo e anunciar que vão mudar o grito dos mais pequenitos. Explicou-me “se para eles não faz sentido, então temos que rever.“
Esta humildade de se conseguirem colocar no papel do outro, esta empatia, este respeito pelas pessoas, mesmo que mais novas, este não partir do princípio de que os adultos é que sabem, este reconhecer que as crianças também sabem coisas e admitir que aos 6 anos possam não perceber que há um “sempre” – “Eu vou ser (sempre) uma boa pessoa” – implícito na frase e que, portanto, têm que a adaptar para que ela faça sentido para quem tem mesmo que fazer sentido… tudo isto se passa na STAT Artes Marciais. Vale tão a pena…
Bem…que espectaculo! ADORO!!! Uma lição para a vida, isso é que é criar valores.
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