No auge de uma fúria, em que gritava eu e gritava ele com lágrimas nos olhos, oiço-me nuns decibéis mais acima do que eu gostaria de me ouvir em plena televisão nacional e em horário nobre: “diz-me lá o que é que tu queres? de que é que tu precisas? Hã? precisas de um abraço?” e ele que sim com a cabeça. E eu, prontamente mas conscientemente a contrariar a minha vontade, que era mais de o esganar do que de o abraçar, agarro-o para mim e ficamos ali um bocado. Penso “realmente… o poder de um abraço…“
Outra: no auge de uma fúria, em que gritava eu e gritava ela com lágrimas nos olhos, oiço-me nuns decibéis mais acima do que eu gostaria de me ouvir em plena televisão nacional e em horário nobre: “olha, Júlia, não temos tempo para isto; escolhe: vens a bem ou vens a mal? Hã? Escolhe! A bem ou a mal?” e ela, baixinho, “com cariiiinhooo…” E eu, admirada com a selecção dela da palavra “carinho”, que não fui eu que induzi e que, portanto, era ela a explicar-me melhor do que eu tinha pedido que precisava que a minha atitude para consigo fosse “a bem”.
Isto para dizer que, realmente, as crianças são crianças. Não são pequenos adultos. Não têm maturidade, têm limitações. O vocabulário é uma delas. A maturidade emocional é outra. E que, se NÓS, a nossa postura mudar, se formos capazes de praticar escuta ativa, se formos capazes de, de facto, ouvir o que eles nos dizem com as palavras mas também com outros instrumentos (chorando, por exemplo; desafiando, por exemplo), as dinâmicas melhoram e as relações passam-se em níveis de decibéis mais agradáveis.