Cinco da tarde desta sexta feira, toca-me o telemóvel. “Estou sim? É a mãe do Frederico? O meu nome é Fulana de Tal, sou enfermeira da Unidade de Saúde Pública e vinha confirmar que o Frederico esteve no serviço de urgência pediátrica do hospital X no passado dia tantos do tal? É que nesse dia também lá esteve outra criança com sarampo e, como o Frederico ainda só tem seis meses e não tem a vacina, deve dirigir-se à unidade de saúde familiar Y [a nossa USF, onde está a nossa médica de família] e às minhas colegas de lá, que a esta altura já conhecem o protocolo recomendado e “estarão à vossa espera” para vacinar o Frederico já, antes dos 12 meses, para o acautelar do surto de sarampo que está declarado em Portugal, uma vez que ele poderá ter estado em contacto com a doença.”
Eu: 😯
E continua ela: “Mais uma coisa: naquele dia quem acompanhou o Frederico ao hospital?”
Eu, que por esta altura já estava em vénias perante o tão maldito por todos menos por mim Serviço Nacional de Saúde, que nunca tive se não boas experiências “no público”, lá respondi que fui eu que fui com ele. “Hu-hum. E, diga-me, a F. tem a vacina em dia?” E não é que não?! Caraças, o sarampo, ao fim de tantos anos, lá me caçou!, pensei eu. A história é que, na altura dos meus 12 meses, há muuuuuuuitos , muitos anos, eu estive hospitalizada durante mais de três meses e, face ao que tinha, atualizar a vacinação não era uma prioridade e essa, logo essa vacina, escapou. Lembro-me da minha mãe contar que, sempre que havia notícia de alguém com sarampo nas escolas onde andei, lá andava ela a fazer figas para que eu apanhasse a doença por contágio e, com isso, ficasse imune. Nunca aconteceu. Não sou imune.
“Espere. Deixe-me confirmar… ora, ora, F… nascida em…“, como quem está a inserir dados para fazer uma pesquisa informática. Parecia aquela geek loira do Criminal Minds, sabes?, que em vinte segundos de teclanço sabe a morada do criminoso, o que ele comeu ao jantar e até o que está nesse momento a pensar! Deixei-me rir “Oh enfermeira, olhe que eu já sou muito antiga, isso nem deve ter registo de mim!”, já a levantar-me para ir desencantar o boletim de vacinas de folhas amareladas do fundo do baú, e ela, como eu precisava claramente de uma prova de credulidade, atira-me: “não, não, cá está. A F. tem de facto todas as vacinas em dia exceto esta, de que não há aqui registo. Na segunda feira, quando levar o Frederico à vacina, vacine-se também por favor. As minhas colegas saberão o protocolo e, havendo dúvidas, também saberão que me devem contactar.“
😲
Só faltou um “obrigada e bom dia.”, a eficiente e despachada! Mas não, despediu-se calmamente, perguntando-me se eu tinha questões, colocando-se à disposição para ajudar na segunda feira e desejando um bom fim de semana.
Isto pode ter muitos defeitos, este nosso Portugalinho. O SNS pode, ele próprio, estar ainda com muito vício por resolver. Mas cá à minha frente ninguém diz mal do nosso serviço público de saúde que eu não deixo. Comigo é sempre isto. Até dados jurássicos como o meu histórico de vacinação está informatizado, não me venham com merdas. O país funciona.