Discriminação de número 

Não morro sem fazer um cruzeiro. Há quem queira lançar-se de pára-quedas, há quem queira dar a volta ao mundo, adotar um aninal, escrever um livro, correr uma maratona, montar uma empresa… eu, é um cruzeiro. Sei que normalmente se associa os cruzeiros a uma outra faixa etária, mas eu não tenho nada essa ideia de Barco do Amor. Acho que deve ser uma bela maneira de fazer férias tipo resort em que o dito resort se move de cidade em cidade. E eu era miúda pra me meter nisso, oh-lá se era.

Já levava eu uns anos desta tara e eis senão quando, em dezembro, montaram na escola dos miúdos uma árvore dos desejos para 2017.


À exceção dos miúdos, que desejaram coisas práticas como apreender a apertar os atacadores ou ter um cão, todos os pais deixaram lindos desejos de saúde, paz e amor, qual discurso de candidata a Miss Mundo. Todos… menos o meu marido, o Sr. Pragmatismo, que escreveu uma coisa mais tangível: fazer um cruzeiro com a família toda. Em perfeito estado de saúde, claro, pra não destoar.

‘Tá dito, ’tá dito. E escrito, melhor ainda, tem mesmo que se cumprir esta resolução de ano novo, não te parece? Cá a mim pareceu, e mais ainda quando, já em janeiro, comecei a ouvir na rádio o anúncio à quinzena dos cruzeiros da Abreu. Todos os astros pareciam estar a conjugar-se.

Portuguesinha que sou, no último dia da promoção lá entrei numa Abreu para saber tudo o que preciso de saber para fazer, finalmente, um cruzeiro. “As crianças não pagam”, dizia a senhora da agência sem saber que me dava música aos ouvidos. “E por ‘crianças’ entende-se menores. Nos cruzeiros é assim, não se paga até aos 18” e eu batendo palminhas, “ai que bom, que bom! É que são 4 delas!! Marque aí, então! :)”

E foi então que a senhora da agência – que com certeza não tinha na mente dar-me uma lição de economia quando, naquela manhã, se engalanou de pulseiras várias e barulhentas para ir trabalhar – me disse por outras palavras “minha amiga, não há almoços grátis, já diziam Adam Smith e David Ricardo”, enquanto dedilhava freneticamente as unhas de gel no teclado, olhos postos no ecrã sobre a armação dos óculos dourados.

A armadilha é esta: crianças não pagam conquanto que sejam só duas por cabine. “Tudo bem, são duas cabines, se faz favor!” Ah, não não. Porque as crianças não podem estar sozinhas numa cabine, portanto considera-se que nessa segunda cabine viajam dois adultos.

O_O

“Desculpe, como diz? Então não podemos estar um de nós com dois deles numa e o outro adulto com os outros dois na outra, por exemplo?” Podem. Mas para efeitos de pagamento, não. É duas crianças (máximo) por cada dois adultos. Ai escolheu ter mais do que só o casalinho? Pensasse! tsc. *estalinho lateral com a boca*

E assim temos que, numa família com 4 crianças, apesar delas não pagarem o cruzeiro, temos sempre que comprar bilhete para 4 adultos! Ó Associação Portuguesa das Famílias Numerosas, tu já te puseste nisto?! Isto não é discriminação? Sei lá, de número, não?

Mais vale mandar vir os avós também, que sempre se dá o (mesmo) dinheiro por justamente empregue e é a única maneira dos 4 miúdos, de facto, não pagarem…

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5 thoughts on “Discriminação de número 

  1. E tu és tão boa nos cruzeiros:):) Não te esqueças que foste tu quem ajudou a organizar o cruzeiro da Je na lua de mel:)
    … realmente, é muito bonito e tal mas é tudo formatado para duas crianças:) Ou bem que dorme apenas um adulto com duas crianças – o que não faz sentido – ou então vão os Avós! É assim mesmo.
    Gostava de saber como é que faria a Família von Trapp…

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