Não é difícil aproveitar os momentos do dia a dia para lhes mostrar que importam, que nos preocupamos com a sua opinião, que os respeitamos e que consideramos o que para eles é importante. Se tratarmos as crianças com o mesmo respeito com que tratamos adultos, em princípio, elas crescerão com uma boa autoestima e um bom vínculo connosco.
-“Onde vais?”
-“Vou arranjar as unhas, olha, vês que já não estão pintadas?” e, para o envolver, “de que cor hei de pintar desta vez?”
-“hum…encarnado.”
-“ok, combinado, já não pinto de encarnado há muito tempo…”
Interrompe-me, todo diplomático, feitio conciliador, ainda todo baralhado nesta coisa dos clubes e das fidelidades, se há de ser como o pai do Benfica ou se há de ser antes como o irmão e a mãe do Sporting:
-“Não, espera. Já sei. Tive uma ideia. 😃 Pintas uma mão de encarnado e outra de verde!”
(😄 o que seria!)
E, como pedir-lhes a opinião é fundamental para que sintam que importam mas não é obrigatório segui-la 😊 (até para lhes demonstrar que há de haver muitas vezes em que não terão razão ou serão contrariados), deixei-me rir e disse que isso é que não podia ser, primeiro porque a mamã não gosta de verde nas unhas e, depois, porque ficaria muito feio uns dedos de uma cor e outros de outra.
Quando nos voltámos a ver, já lá ia tanto tempo que o verniz até já tinha secado e tudo (quem não faz gelinho compreende isto que eu disse!) e eu já nem me lembrava desta conversa. Mas notei que ele, ao reparar nas minhas unhas de encarnado pintadas, fez uma pausa, observou e não disse nada. Disse eu “vês? encarnado, como tu sugeriste. ficou giro, não ficou?”, contente por perceber que tinha resultado, que aquela oportunidade que lhe dei de me escolher a cor do verniz foi muito mais do que isso, foi um degrauzinho mais na sua autoestima e na relação que vou construindo com ele.