Respeito. Segurança. Redes sociais

Quando comecei aqui a toca escrevi um post em que confessava o meu medo da internet e do poder que passa a ter quem apanha o que publicamos.

Mantenho.

Divirto-me imenso a escrever aqui o meu diário. Até gostava de ter tomates para escrever mais coisas que me vêm à cabeça mas ainda não me sinto com estatuto para isso. Por exemplo (vou arriscar agora, ó): Então e o enjoo que é ver uma dita estrela da blogosfera pouco mais grávida que eu, que se diz sempre super in love pelo marido e pela gravidez, mas que se publica sempre, sempre, in-va-ri-a-vel-men-te, sem sorrir?! Pior: mais do que não sorrir, ela aparece sempre com cara triste! Quando não está! “Que parva sois”, penso eu sempre que lhe leio um post. Consegue meter-se nos mesmos calções de ganga de há meses atrás, não tem as dores que eu tenho, está linda e toda fit e despreza? Ó senhora, ri-te, mulher! Ainda por cima tem um sorriso tão mais bonito do que aquela habitual cara de pum… Já eu, quem me veja a rodopiar com a filha dentro de água ou se cruze comigo toda sorrisos, apesar do andar deselegante, não imagina que passo as noites em branco e encostada ao fresco dos azulejos da casa de banho!!

E pronto, estás a ver?, era esta espontaneidade que gostava de publicar mais vezes mas (cá está o mas de que te quero falar) ainda me refreio.

E refreio-me por uma questão de respeito. É certo que isto é um espaço meu, onde eu ponho a minha opinião, que, desde que fundamentada, é tão válida como uma contrária. Mas não deixa de ser um espaço público onde as pessoas aí atrás me merecem respeito. E faço questão de não me esquecer disto.

Tenho por princípio não fazer online aquilo que não faria pessoalmente. Ou seja: se um conhecido meu faz anos e eu só o sei porque o facebook me avisa, não vou deixar uma mensagem de parabéns no seu mural. Para quê? Para parecer simpática? A quem? Eu não preciso de provar nada a mim própria nem a quem me conhece bem. Se não lhe ligaria a dar parabéns, também não lhos vou dar no facebook. Acabo por nunca escrever parabéns a ninguém nas redes sociais porque, das duas, uma: ou não os daria pessoalmente porque o nível de proximidade não o justificaria, ou dou pessoalmente ou com um telefonema.

Mas isto é o exemplo daquelas situações em que ainda faço questão de que a vida virtual não substitua a minha vida pessoal. Mais sério que isto é aquilo que eu pretendo mesmo vedar ao conhecimento de todos, aquilo que eu prefiro guardar só para mim e para alguns, e que as redes sociais nos roubam. E que não consigo controlar quando são outros os donos das fotos, por exemplo.

Eu prefiro não mostrar os meus filhos porque penso sempre primeiro no seu direito à sua própria imagem (mais do que agora, daqui a uns anos) do que no prazer imediato que uns quantos likes me poderiam dar a mim. Da mesma maneira, tenho o cuidado de não lhes apontar a máquina se ao lado deles no parque estão outros meninos desconhecidos e sou incapaz de publicar conversas ou fotos em que aparecem amigos sem lhes pedir autorização primeiro (e mesmo assim aplico o mesmo critério que aos meus filhos: sem feições explícitas). É uma questão de respeito. Também aqui, se na vida real não exporia terceiros, porque não hei de ter o mesmo cuidado na internet?

Também por questões de segurança nunca tenho as localizações ativas e não gosto de mostrar a minha casa, o meu espaço íntimo, para além do detalhe. Acho que isto é básico, não faltam avisos das polícias a advertir para que não se publiquem coisas do género “Algarve, aí vamos nós!” e, pior, com as datas de ausência que são verdadeiros convites aos mal intencionados.  Mas, ainda assim, o que mais me aparece no scroll down do instagram é “fulano de tal em praia não sei de onde” e depois nos comentários “estás aqui? Eu tb! Até quando? Até dia tal!” Acho isto de uma irresponsabilidade…

E são adultos que o fazem. Sem filtro nenhum, sem consciência nenhuma do poder da internet, sempre achando que é só nos filmes que elas acontecem. Estes adultos, como não têm essa consciência, depois também não estão aptos a educar os filhos para viverem numa geração em que o mundo real se confunde com o virtual. Não os educam para isso simplesmente. Acham que cumprem o seu papel por lhes inibir uma conta de facebook até que façam os 13, como se aos 13 já seja razoável ter facebook. E depois ouço coisas ridículas como “instagram ok, facebook só quando fizer 13” Mas porquê?! Qual é a diferença entre uma falta de privacidade e outra?! Tenho alguns miúdos no instagram com centenas de seguidores. Centenas. Uma amiguinha (11 anos) da filha de uns amigos nossos pediu outro dia ao meu marido para o seguir. O_O Pra quê?! Que interesse pode ela ter em seguir as publicações de um homem de 40 anos que é – repara na distância – amigo dos pais da BFF dela?!?! Amoroso não será seguramente, interesse profissional tão-pouco… E os pais dela saberão disto? Falarão com ela sobre o critério com que se deve atuar nas redes sociais? Terão eles algum critério para si proprios, para início de conversa?

É uma questão de respeito e de “não faças aos outros o que não gostas que te façam a ti” aplicado à vida virtual. Eu, que sou esta que, apesar de manter um blog, procura proteger ao máximo a sua privacidade e a dos outros, tem surpresas do género de apanhar a sua casa como cenário de umas fotos que terceiros resolveram publicar. Com hashtags identificativos mais do que eu gostaria. Não lhes ocorre pedir autorização. Não lhes ocorre que não têm esse direito só porque a foto é sua e a máquina ou o telefone são seus e só porque ali estavam legitimamente.

Antes de publicares a foto das férias repara se em segundo plano aparece uma senhora de frente. Pensa que ela pode vir a ver a tua foto, que tu achaste que era só tua e das tuas centenas de amigos virtuais, mas que, porque este mundo é uma ervilha, ela calha a ser amiga de uma amiga tua e não gostaria de se ver na net com cara enrugada do sol, por exemplo. Antes de mostrares aos teus seguidores no instagram a tarde divertida que passaram em casa não sei de quem, pensa se esse não sei quem não se importa. Pede-lhe autorização. Mal não faz e só te fica bem. Antes de apontares o zoom ao teu filho que se prepara para descer no escorrga, explica ao pai do menino que está impaciente atrás do teu que só vais apanhar mesmo o teu para a eventualidade desse pai ser um ET como eu que se sentiria incomodado com a dúvida. Educa os teus filhos de maneira a que saibam comportar-se nas redes sociais como se comportariam na vida real enquanto os pais estão a ver. Faz aos outros como preferes que façam contigo. Respeita-os, mesmo quando o mundo virtual já se sobrepõe a valores reais e parece dado adquirido que tudo se pode.

tão mais saudável o futrico inconsequente das vizinhas

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