O efeito borboleta

As eleições nos EUA não têm nada a ver com as nossas. Nem o sistema eleitoral, nem o tipo de campanha que os principais partidos fazem, nem o funding, nem os lobbies que existem por detrás e a maneira como movem influências, nem o comportamento dos meios de comunicação social, nada é igual ao que conhecemos por cá. À boa maneira americana, é tudo um grande show e, a mim, dá-me um gozo brutal ir assistindo como se fossem episódios de uma novela das boas.

A propósito do espetáculo que foi ontem a última noite da convenção dos democratas, aí fica o resumo com vídeos e links para os episódios anteriores, caso também te entusiasmes com isto. Afinal, o bater das asas de uma borboleta por aqueles lados provoca um tufão cá por estes.

Eu já achei o máximo quando, nas primárias de 2008, estavam a Hillary e o Obama no mata-mata pelo partido democrático. Ganhasse quem ganhasse, seria sempre um inédito, ou o primeiro candidato a presidente preto ou a primeira candidata mulher. (E quem ganhasse as primárias do partido democrata devia mesmo vir a ser Presidente, confirmando-se a tendência de rotação entre os dois principais partidos, ora um democrata, ora um republicano.) Foi interessantíssimo acompanhar. Agora que ela se apresenta novamente e é mesmo ela a candidata dos democratas, o inédito está prestes a suceder-se a si próprio – ao primeiro Presidente preto sucede a primeira mulher Presidente. Sim, pra mim não é sequer hipótese que o outro buçal ganhe. Acho que os americanos, por muito que possam achar que o leite vem dos pacotes, não vão fazer depender as suas vidas de um insano que só tem credito num reality show, mesmo.

Por falar em novelas da vida real, também é muito interessante ver como já ninguém se lembra do episódio Monica Lewinsky, que, olhando para o debilitado Bill de hoje em dia, quase que até parece que nem nunca aconteceu! E quem ainda pensou nisso em 2008, quando Hillary apareceu pela primeira vez cabeça de cartaz, ontem até aplaudiu romanticamente quando ela dirigiu aquelas palavras ao marido sobre “os maus momentos que passámos que só nos tornaram mais fortes”. Muito bom! Esta senhora terá estado longe de ter sido “só” a primeira dama na governação do seu marido. Depois de se ter batido à grande nas primárias de 2008, não terá sido à toa que Obama a convidou para Secretary of State, papel que me lembro de elogiar sempre que a via distanciadíssima da imagem de dona de casa desesperada porque encornada.

Quanto ao efeito borboleta e ao que a nós nos pode vir a tocar, ontem a Clinton não falou muito da proposta de política internacional – nem competia naquela convenção cujas atenções eram mais domésticas – mas gosto muito sempre que ela atira bocas do género “vocês estão a vê-lo [ao Trump] a ser o detentor do poderio que tem o comandante supremo das forças armadas?” Ou “a conhecer os códigos nucleares?” E é verdade. Ele pica-se e perde a educação/estribeira/calma por dá cá aquela palha. Ao comando da maior potência militar mundial, o primeiro bater de asas da borboleta asiática era logo coisa para o fazer explodir com o mundo inteiro por incontinência de ira, o pouco capaz.

Que a tradição se rompa e que, na próxima primeira terça-feira de novembro, ao democrata Obama suceda a sua ex-MNE, a também democrata Hillary!

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