Primeira vez

Quis o destino que houvesse um jantar e um arraial no passado sábado que fizessem esta irresponsável desta mãe deixar as crias a dormir com os avós a cerca de uma hora de caminho. Vejam só, armada em quinceañera, a querer ir ao arraial!! Como se não estivesse um bidon com pernas, a dançar Os Peitos da Cabritinha e sem sequer se remoer por ter os filhos longe nessa noite, tsc, tsc…

Não, calma, não os mandei de sexta a domingo para o Algarve!, diz o anjinho da consciência de um lado. Foi só uma noite e até calhou que só os abandonei mesmo em cima da hora do dito jantar nesse sábado, encurtando a hora de caminho para cerca de 40min, e no dia seguinte já eles estariam de volta.

Sim, mas não é como quando vais só ali jantar e eles ficam na avó, na mesma freguesia, e no domingo os vais apanhar ainda de manhã!, diz logo o diabinho da consciência do outro lado. Implicou toda uma viagem por autoestradas e velocidades acima dos 50 km/H e todo um dia de namoro só com o teu marido, sua porca iludida, onde já se viu tal coisa?! Mas tu achas que ainda sabes estar só a dois com o teu marido, achas, achas, ACHAS? Achas porventura que ele ainda te olha como a gira dos cachos loiros compridos que naquele dia viu de costas e de quem gostou logo, achas, achas, ACHAS?

E – pior!!!, diz o diabinho em choque – ao acordarem no domingo de manhã, o teu marido ainda sugeriu que voltassem a fazer a tal piscina de cerca de uma hora pra cima e depois pra baixo no mapa para irem ter com os miúdos e tu, sua desligada, respondeste-lhe impenetrável que não, que fossem antes fazer tudo o que não fazem só os dois desde antes das crias, desde a primavera de 2012. És pérfida…

Para compensar estes 4 anos de preocupação com os horários, atreveste-te a sair de casa sem relógio no pulso. De propósito!! E nem olhaste grande coisa para o telefone durante o dia todo, exceto, vá lá, para ao menos saberes que, sim, estava tudo bem com as crias. Mas não te demoraste muito naquela sensação de semideceção ao saber que estavam ótimos e nem tinham perguntado pela mãe ou pelo pai, num instantinho esfregaste as mãos de contentamento e pensaste “ok, vamos lá então comer onde quisermos sem pensar se vai haver uma sopinha de legumes passada, vamos àquela praia onde nunca vamos porque o acesso é difícil para as tralhas dos miúdos!”


E assim foi que este domingo tentei namorar com o meu marido sem horas nem regras nem filhos e digo “tentei” porque, de facto, trazíamos o da barriga necessariamente, porque as rotinas e horários já estão tão enraízados que o relógio biológico já chama para a mesa mesmo à hora de almoço e não nos deixou acordar muito depois dos dois dígitos no relógio, e porque realmente há uma sombra que paira sobre qualquer ambiente de romance forçado que é a da estranheza por eles não estarem. Pode ter sido só porque era a primeira vez, mas assim que os apanhámos sãos e salvos, lavados e alimentados, e sonoros a falarem aos gritos ao mesmo tempo dentro daquele carro, olhei de soslaio para o meu marido e ele tinha aquele sorriso tipo “agora sim, está tudo normal, está tudo bem.”

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4 thoughts on “Primeira vez

  1. Há sempre uma primeira ver para tudo!!!!
    O problema é quando lhe tomamos o gosto…falamos daqui a uns anos, quando o da barriga tiver 5/6 anos…
    Beijoca, Maf

    Gostar

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