Quem não pode, não pode.

Gosto de política, não gosto de falar de política. Já to disse aqui, acho difícil dissociar uma conversa destas da emoção. Igual com o futebol, igual com a religião.  Não gosto, não acho bonito e não vejo mais valia nenhuma no extremar de posições e cristalizar fações entre “nós” versus “eles”, que é o que acontece normalmente quando é a emoção a comandar a discussão. Não existe “nós, os bons” versus “eles, os maus”. Há bom e mau em todo o lado, há bons gestores públicos nos governos PS como os há nos do PSD, assim como há compadrio e podridão vindos tanto de um lado como do outro. Mais: até acho que acobertar uma posição atrás de uma ideologia também pode ser obtuso. Há uma linha muito tênue entre ideologias e cada vez mais há um enorme “centrão” que não é “de esquerda” ou “de direita” e que acaba por ser onde se encontra o equilíbrio disto tudo.

Daí que esta celeuma toda em torno dos contratos de associação e do serviço de escola pública financiado ao setor privado se arraste já há tanto tempo e eu não tenha dito nem um ai sobre isso. É que me recuso a ver as coisas com palas nos olhos e a não admitir que “os meus” estejam errados e, por outro lado, honestamente, nem percebo qual é o fru.

Ou há dinheiro, ou não há. Ou há alternativa pública ou não há. Este é que é o ponto de partida, ok? Não interessa nada se as escolas públicas que estão ao lado das escolas privadas com contratos de associação foram construídas em bom exercício de gestão pública ou se foram ao abrigo de compadrios. Isso é outra questão, ok? É uma questão anterior, certo, mas que no devido momento não estava lá ninguém a controlar, ninguém viu, ninguém se apercebeu e agora as escolas públicas estão lá, a dois passos das outras e prontas para prestar o serviço de escolaridade obrigatória livre de mensalidades, não é verdade? Então é este o ponto de partida: há alternativa na rede pública. E não há dinheiro. Donde… qual é a dúvida sobre o benefício de se acabar com os contratos de associação nestes casos?!?!

Não percebo, a sério. Quem pode, deve, já o disse aqui a propósito de outra conversa. Mas quem não pode, não pode mesmo, lamento, não tem escolha, pois não, não tem.

Ah, e tal, eu pago impostos e portanto tenho direito a escolher a escola dos meus filhos.” Não, não tens esse direito por causa disso. O direito de escolher a escola dos teus filhos advém de teres dinheiro na carteira para pagar as mensalidades da escola privada, se for essa a tua escolha. Não tens o direito de escolher a escola particular ao lado da pública que já lá está só porque o filho “sempre lá andou”. É uma irresponsabilidade e um despesismo.

Ah, e tal, mas o ensino é de qualidade [multiplicidade de critérios aqui a considerar para definir este conceito – o que é “ensino de qualidade”? – que davam para vinte mil posts e outras tantas conversas de café obtusas] e eu, porque pago impostos, tenho o direito de escolher a qualidade no ensino para os meus filhos.” O que tu tens é o direito – e até admito, o dever! – de reclamar qualidade no serviço público. Que a há. Mais uma vez, não cristalizar generalizações, por favor. Nem a escola pública é toda má nem a escola privada é toda boa.  E para que o agrupamento de escolas públicas onde vives seja cada vez melhor e não tenhas que te sentir a fazer um downgrade no teu estilo de vida ao ter que passar os meninos para a escola pública, o que tens que fazer é justamente parar com esta reivindicação tonta de que o Estado te alimente o luxo, embuir-te de espírito de cidadania, e pensar que os dinheiros publicos, que são parcos e de todos, estariam muito melhor aplicados se servissem para investir na reforma do sistema de educação, por exemplo, digo eu, que sou uma otimista!

Quem não tem dinheiro não tem vícios. É assim ou não é? Então, ou tens dinheiro e escolhe lá o que tu quiseres para a tua vida, ou não tens dinheiro e inevitavelmente terás que lidar com a redução das tuas opções de escolha.

Sou absolutamente insuspeita para falar assim: 1. já te disse que costumo votar PSD mas, lá está, recuso-me a não admitir erros “nossos” e só tenho ouvido razoabilidade e bom senso em todas as coisas que a Secretária de Estado da Educação tem dito sobre o tema; e 2. se daqui a dois anos estiver a inscrever os meus filhos num colégio privado  é tão só porque posso!, porque tenho capacidade financeira para considerar as duas opções e não porque estou a contar com alguma bonificação vinda do Estado. (E também te garanto que os meus critérios não serão baseados em generalizações preconceituosas – não me ouvirás dizer que é porque o ensino público é mau, mas talvez que preferi outra metodologia de ensino, por exemplo.)

 

 

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