Da sala da Júlia passaram-me uma garrafa de iogurte líquido para as mãos com um papelinho de instruções: criar a partir dali um animal à escolha com os materiais que entendêssemos; registar o making of.
Raios. Eu sou aquela que, nas aulas de trabalhos manuais, nem sabia bem como é que as tapeçarias me aconteciam, nem como é que as campainhas efetivamente tocavam ou as lâmpadas davam mesmo luz… Como é que ia agora fazer dali um bicho?! Andei ali dois dias de roda da garrafa, a olhá-la de lado, a pensar se me dava mais jeito fazer um quadrúpede e usá-la deitada, se um bípede e deixá-la assim de pé, a imaginar-lhe patas e caudas e de tudo desistia por falta de consistência na criatividade!
Não lhe dei muita importância, deixei-a ali em cima da bancada e fui perguntando aos meninos o que havíamos de fazer com ela. Claro que a Júlia ainda não consegue decidir sozinha, nem sequer conhece os bichos todos que existem – e até acho que a ideia da educadora era qualquer coisa entre um lindo caniche ou um peixinho dourado, porque eles andam é a falar de animais domésticos… Mas o meu filho Manel é todo dado a grandes feras e sugeriu logo o leão, claro, o rei da selva! E a Júlia pôs-se logo a rugir com uma cara muito feroz, “RRAAAAUU…!” Estava escolhido o bicho. Eu a pensar nos novelinhos de algodão com que tiro o verniz das unhas, que tão facilmente davam ali uma linda ovelha, mas eles, ná, nada os demovia do leão-rrraau. 😏
Sendo assim, e porque o TPC, nestas idades, é obviamente para os pais mas eu acredito que não faz sentido se não for com o total envolvimento deles (na medida do que possam) – é para fazer com eles e não por eles – um leão it is!
Comecei por imaginar o bicho sentado sobre as patas de trás, com uma juba que logo via como fazer e a cauda ao pendurão. Fui munida só disto na minha cabeça para o chinês. E levei a minha “asa” J. debaixo do braço – ela já tem um ano a mais de experiência de maternidade e já faz TPC há mais um ano que eu!
Ainda hesitámos entre uma juba feita de lã ou de uma linda pregadeira em forma de rosa (cor de laranja) que lá havia, mas depois optámos pelos berloques. O corpo/garrafa esteve a pontos de ser simplesmente pintado ou então todo envolto em trapilho, até que enfiei pelo corredor da roupa interior e dei com uma finíssima peça de lingerie de padrão selvagem que me facilitava a vida até mai’não! Isso, mais um A4 de papel de feltro ou veludo ou lá o que é aquilo e um pacotinho de olhos (é uma infinitude de narizes e patas e olhos, mais pestanudos ou mais estáticos, que há nestas lojas que até chega a ser sinistro!) e já estava o projeto todo montado! Ao chegar a casa não foi preciso mais do que expor os materiais em cima da mesa para lhes captar a atenção num instante!

Foi difícil sossegá-los com tanta novidade diante de si. Por duas ou três vezes a cacei já de gatas em cima da mesa e também não consegui evitar que o Manel desenhasse um lindo sorriso (!) depois de alinhar uns cabelos e uns olhos no papel de veludo…

…mas lá anunciei as regras (na tesoura e na cola só mexia a mamã) e, como sempre, surpreendi-me com a disciplina positiva: eles acataram-nas e a partir daí puderam escolher/decidir coisas, o que lhes deu a sensação de autonomia e poder de decisão, a responsabilidade pelas consequências das escolhas que fizessem, fê-los sentir que contavam, que o que opinavam era importante, fê-los sentir-se valorizados. Um exemplo: cá para mim, a juba está um bocadito desproporcionada, podia ser mai’piquena. Mas eles insistiram que era com aquela tigela e com mais nenhuma que íamos fazer o contorno e, pronto, quem sou eu?! A mãe autoritária que implica, só porque sim, só porque pode, “é antes com aquela outra porque eu acho que vai ficar melhor e eu é que sei!”? ou a mãe que os deixa escolher e sentirem-se poderosos, pese embora depois lhes chame a atenção para a consequência da sua escolha “não acham que podia ser um bocadinho mais pequeno?”… ;)
Privilegiei o input da Júlia o mais possível, porque o trabalho era dela, para a sala dela. Mas não podia ignorar ou – pior! – reprimir o entusiasmo do Manel. Acho que não lhe vão cortar na nota por ter tido a ajuda do mano mais experiente ;) E assim, entusiasmados, participaram os dois em tudo, o mais possível e, no final de contas, acho que fizémos uma bela equipa:

Ps: não sei se interessa, mas ainda lá ficaram no chinês umas truces e uns strings que dariam uma linda zebra ou um querido lince!…
Ficou o máximo!!!
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obrigada! a pequena artista e sua entourage agradecem! :)
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Muito giro o leãozinho :-)
Beijinhos
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lá te livraste de ser chamada de reforços, madrita!…
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