Aqui no escritório há sempre gente a caminho de Bruxelas, em Bruxelas ou a vir de Bruxelas. Sempre. Todas as semanas, deslocações de dois, três dias, um ir e vir só para uma reunião de um dia, sempre.
Estava de mini férias, a acordar e a despachar para ir com eles para o Pavilhão do Conhecimento. De repente, a tv ligada à procura de um Bombeiro Sam ou da Patrulha Pata detém-me antes nas parangonas de rodapés em vermelho vivo e com caps lock. Revi mentalmente todos os colegas que poderiam lá estar, agradeci a Deus por saber que a minha P. não ia esta semana, continuei a calçar um pé, depois o outro e a pedir “shiu, shiu, deixem só ouvir isto” até perceber que era outra vez Paris ou Londres ou Madrid ou 11 de Setembro.
Os nossos aqui do escritório, estão todos bem. Chegaram ontem porque foram de taxi e de comboio até Amesterdão e não sei mais onde e daí apanharam, então, os aviões para Lisboa. Dependendo das personalidades, uns mais calmos que outros, um, em particular, parece-me forçar o sorriso e a calma para sacudir algum medo ou ideias do tipo “caraças, ia sendo…!”
Não quero alinhar pelo alarmismo – como li algures, três atentados em 15 meses, não são propriamente cenário de guerra generalizada. Servem só para aquilo que foram pensados, mesmo: para espalhar terror. Que não nos deixemos ir. É mesmo isso que eles querem. Além disso é bom que o medo não nos deixe esquecer que, desde o 11 de setembro, muito plano deste género tem sido travado ainda em fase precoce sem que a opinião pública se tenha apercebido disso e que as forças do mundo ocidental são desproporcionadamente mais que as deles (fica assim, no indefinido, porque não quero estar a atribuir culpas e a rotular por preconceito).
Mas não posso deixar de pensar que só falta Lisboa. E que quando for aqui (sim, “quando” e não “se fosse”, porque duvido pouco de que tenhamos assim tanta falta de interesse geoestratégico ou que nos poupem pelos nossos lindos olhos), ao contrário dos meus colegas, que se meteram em comboios e meios de transporte alternativos e chegaram a casa de alguma maneira, não temos como sair daqui… A p*** da posição periférica – que já nos deu tanto, que já nos permitiu ter o Mundo nas mãos! – a lixar-nos, não só o acesso aos fundos comunitários, mas também à rede de transportes…
não há palavras… e todas as que usamos são apenas tentativas de afastar esta sombra ácida do terrorismo. bruxelas, a couve, como a chamamos. os lugares onde tantas vezes vamos e passamos. como dizia há pouco uma colega, há nestas imagens, um elo sentimental ainda mais forte, porque conhecemos os sítios e podia ser…
os nossos, que estavam lá no fatídico dia, já cá estão, graças a Deus, sãos e salvos! como dizes, uns mais amachucados por dentro que outros.
infelizmente, houve os que nunca mais chegaram.
é tão assustador. estamos a assistir a uma mudança já há muito tempo. não é fácil. sobretudo, porque não é para melhor. que futuro? Magritte, o belga, disse do futuro que “é uma ideia sangrenta”. Mas ele foi surrealista… que tempos são estes? que legado é este cheio de bombas relógio, células adormecidas de terror?
estamos todos a tornar-mo-nos refugiados… mesmo na nossa bolha de (quase) paraíso que esta nossa periferia é.
cf. artigo de opinião e foto publicada em http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2016/03/o-futuro-e-uma-ideia-sangrenta-magritte.html
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