Toda a gente diz que, depois de se ter filhos, a principal mudança de vida, de forma resumida, é a perda do espontâneo. Eu senti isso. Lembro-me da minha amiga S. ligar a desencaminhar para uma sessão nessa noite, daí a umas horas, mas já não foi a cinéfila que havia em mim que a atendeu, foi a mãe de pequena pessoa a precisar de cuidados. Ainda hoje não é de ânimo leve que marcamos umas férias e, fins de semana a dois, viste, o primeiro foi o de Paris outro dia, no final do ano!
Por isso, é com êxtase e até orgulho que olho para o nosso programa familiar desta manhã, absolutamente ao sabor do improviso, mas em que as coisas se foram encaixando umas nas outras e acabou por acontecer o espontâneo, o inesperado, as coisas boas, a família, o amor.
Tomámos um pequeno almoço calmo e farto, como nas novelas. Arrastámo-nos entre brinquedos espalhados e compressas ranhosas e miúdos que não sabiam que se divertiriam muito mais fora de casa. Ignorámos as nuvens, focalizámo-nos nas abertas de sol. Fomos para a praia. A esquisitinha sempre a precisar do seu tempo até conseguir contacto com outras texturas – já não se lembra do verão na praia. Ele, ao contrário, ainda ia a voar até ao areal e já ia a pedir para se descalçar “mas as meias também!” O que ele se divertiu com nada, verdadeiramente mais nada a não ser o que a areia e o mar lhe davam, ora frio e pés sujos, ora quentinho e paus de bandeira para decorar o seu castelo.
Sem olhar para o relógio, “e se comêssemos aqui?”, ao passar por uma ardósia que dizia “sopa de legumes, arroz de pato”. Sentados, o sol até dava para o osganço (do verbo “osgar” que foi a solteira que um dia fui que inventou). Eles, entretidos com umas bandas desenhadas em francês (os miúdos lá se importam…) ou simplesmente a fazerem-se de independentes na área de poufs e sofá um bocadinho afastada da nossa mesa. A sopa de legumes era maravilhosa. Este espontâneo todo ainda nos deu tempo para uma destas, vê bem!:
E só mesmo depois dele me ter roubado os morangos e o caramelo é que ela começou a bocejar. Era tempo de ir para casa, mas o programinha maravilhoso e inesperado já cá canta!
Não são os filhos que acabam com o espontâneo nas nossas vidas. Nós só temos é que o saber deixar entrar quando ele está mascarado de outra maneira que não programas over-18. Pode vir disfarçado só de tempo para partilhar uma sobremesa, por exemplo…
o inesperado e o espontâneo sabem sempre melhor :-)
Beijinhos
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