Estive uma semana inteira sozinha com os meus filhos de três anos e 20 meses em casa. 24h sobre 24h (até pareço os da Casa dos Segredos a falar). Nessa mesma semana, quando na tv não estava o Jake ou a Doutora Brinquedos, passava-se toda a tragédia de Caxias e eu, enquanto limpava um ranho ou apartava uma briga ou mandava três gritos para imediatamente me autocondenar por perder o controlo, ia pensando “caramba, olha que não é difícil uma pessoa perder o norte com dois tão pequeninos, hein?!” (atenta que a Samira e a Viviane tinham as mesmas idades dos meus)
Com certeza que há nesta história contornos disfuncionais que ditam necessariamente o fim trágico que aquelas crianças tiveram e que, graças a Deus, por muito que me descabele e perca a arte da disciplina positiva, não me tocam. Mas é inevitável pensar que tinham a idade dos meus… e em que forças (ou falta delas?) se suporta uma mãe para planear a morte de filhos, articulá-la e, de facto, matá-los? Como é que, durante cada passo do processo, nunca lhe volta o discernimento para parar com aquilo?
Lá em casa andamos a ter noites péssimas. Com os dois. Dormimos pouco e mal. O resto do dia fica logo condenado a não correr bem. Amanhecemos já cansados, implicativos, com pouca paciência para as crianças que, como todos os dias e a toda a hora, estão só a ser crianças. As manhãs são logo de correria em vez de jogos estratégicos de engodo e carinho. O dia nos escritórios é pouco produtivo e abundam os bocejos. Ao final do dia, pese embora as saudades, o corpo e a cabeça estão cansados e obrigam-te a torcer a cara porque o pequeno bruto te abalroou em vez de te deixarem apreciar o corpinho de um metro e pouco que corre para ti num abraço. E depois penalizas-te pela cara feia e esforças sorrisos e puxas por ele para que converse contigo, mas aí já ele não está para partilhas, já virou costas por não suportar os ciúmes da irmã que agora te fica com o colo e tu penalizas-te outra vez porque perdeste a oportunidade de um reencontro feliz e de recomeçar do zero aquele dia. E o dia está prestes a acabar porque não tarda é hora de banho, jantar e cama e tudo tem o seu horário e, sempre que há horário há birras que impedem o seu cumprimento, como se sabe, e voltas a mandar a disciplina positiva à fava e a pedir, só, que a noite chegue, amanhã será melhor, se Deus quiser. Mas como a noite chega sempre interrompida a cada par de horas, andas neste loop, cansada, derreada, estafada, sem ver o fim do túnel à vista e tendes a lamber as feridas como eu estou a fazer agora, sem te ocorrer olhar para o lado, olhar para Caxias, e ver que tudo isto se resolve com um fim de semana prolongado ou umas mini férias ao passo que, em Caxias, não.
Que texto fantástico. Coragem!
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Sinto exatamente a mesma coisa… não durmo há tanto tempo como deve ser que me pergunto a mim própria como consigo continuar e trabalhar todos os dias… Só não acho que se resolva com uma mini ferias ou um fim de semana fantástico, no meu caso.
Força!
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;) obrigada, Ana, e força aí desse lado também. No fim de contas ninguém diz que eles não valem a pena toda a falta de sono, verdade? ;)
beijinhos!
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Adorei!
Um grande beijinho*
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