Paris, en continuation

Hoje, mais que nunca, apetece-me revisitar os três dias que passámos em Paris. Et voilá a continuação prometida!

Três dias super concentrados, sem ideias megalómanas de querer ver a cidade de uma ponta à outra, antes pelo contrário, com uma short list bem short sobre o que queríamos fazer e o que dispensávamos. Ajudou muito termos chegado ainda ao fim da manhã (não vamos falar sobre o ter que acordar às cinco da manhã…) e, com isso, ter ficado com a hora de almoço e a tarde inteira do primeiro dia completamente livres para começar o pequeno périplo. Também ajudou muito termos comprado logo no aeroporto de Orly o bilhete da rede de transportes para três dias. Qual taxi, qual quê!, fomos logo de Orlyval e de metro até à cidade (que parava quase dentro do lobby do hotel, já contei) e daí em diante foi sempre a passar o bilhete na maquineta, catchiiim! Acredito que poupámos umas lecas com esse pequeno precious!

À hora de almoço já estávamos em Versailles. O senhor dos bilhetes – português das Beiras que falava meia dúzia de línguas a aviar turistas – ainda nos aconselhou que o melhor seria não comprar o bilhete completo, comprar só o que dava acesso ao castelo principal, porque àquela hora já provavelmente não íamos ter tempo de ver tudo. Estimam eles que, só do castelo principal até aos aposentos da Maria Antonieta no palacete Petit Trianon, é um passeio de 40 minutos ou mais pelos famosos jardins de Versailles. Se contarmos com filas e filas de gente para avançar de sala em sala dentro do castelo… Mas eu, imperiosa, com esta minha costela meia trazida de outra vida setecentista ou oitocentista, quis cá saber do que o homem me dizia, eu queria era ir ver a casa da Maria Antonieta e acabou-se a conversa. Nem que começasse a visita pelo fim!

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Não foi preciso porque, honestamente, o Palácio de Versailles é magnífico e tal e coiso, que é. (Tu já viste bem aqueles dourados todos só no portão da entrada? É de uma pessoa começar logo a sentir-se caminhar sobre veludos e imaginar ter uma corte de gente atrás!) Mas também não é nada que não se tenha já visto por essa Europa fora e até mesmo aqui no burgo. Do que me lembro do Palácio de Queluz, por exemplo, não lhe fica a dever nada e, se não estou em erro (agora não tenho tempo para ir googlar a confirmar), o Palácio da Ajuda foi feito como réplica de Versailles (mas só uma das alas, que não houve dinehiro para mais). E vai daí que, tapeçaria por tapeçaria, cama real por cama real, mais busto, menos rideau, foi um acotovelar toda a gente, “oh faxavôre”, “licencinha, licencinha”, a ver se chegávamos num instante ao apogeu que é a Sala dos Espelhos para poder passar ao Grand Trianon e ao Petit Trianon, finalmente. Ora o que é que sucede? Sucede que, para ir do castelo para os palacetes Trianon e não ir passeando demoradamente de mão na mão pelos jardins fora como se estivessemos por Paris por uma semana, metemo-nos no comboiinho que lá há (custo extra, pois claro!), do género do que há no Portugal dos Pequenitos ou na vila de Cascais, por exemplo. O M. deixou-se dormitar com a trepidação e aqui a ursa, com tanta coisa com a Maria Antonieta, tanta coisa com a Maria Antonieta, pumba, deixou passar a paragem! E – podes gozar-me – o mais caricato é que só havia duas!! :D Como é possível?!… *levando a mão à testa* Dou por mim a voltar à base sem ter parado no Petit Trianon, o M. já muito conformado (desejoso?), dizendo-me “deixa lá, agora também já está a anoitecer…” e eu a sentir que fui a Roma e não vi o Papa e a ouvir na cabeça as palavras do português da bilheteira “olhe que não tem tempo…” e a sentir-me encraquilhar toda, que nervos de mim, caramba… atirei-me ao condutor do comboiinho a explicar que me tinha baralhado e que, vá, ele também podiam ter um sistema de indicações por altifalante, caramba, mas estamos em Paris ou quê?!, com os olhos quase lacrimejantes como o Gato das Botas no Shrek… e ele, francês, muito pouco arrogante, muito quase a roçar o simpático, aliás… faz-nos um sinal de “esperem ali, vão ali ter comigo” e, à socapa dos outros turistas todos que estavam na fila para ainda mais uma voltinha naquele comboio, mete-nos no dito, vazio, a caminho de o estacionar no fim do seu dia de trabalho, e dá-nos boleia até ao palacete da Antonieta, o querido do franciú. Eu até dava saltinhos. O M., arrastado. Eu queria cá saber! Ai, tão bom, ‘bora lá ver como é que ela se emancipava do marido e preferia o campo e os animais (a camponesa, vejam só!)

Do que eu mais gostei do passeio naquele comboio, enquanto o M. dormitava, foi de observar os parisienses a desfrutar dos jardins e das avenidas de Versailles como verdadeiros locals. Tal como nós agarramos nos miúdos e nas bicicletas e vamos para a marginal ou para a Gulbenkian fazer piqueniques, os parisienses vão para Versailles e largam os garotos por ali, encasacados e de gorros pelas orelhas abaixo, a pontapear as folhas caídas das árvores, a inventar cenas de espadachim com ramos, outros correm como as minhas amigas gazelas correm, treinando para provas oficiais, imagino eu… foi giro. Gostei particularmente de um pai com três filhos pequeninos, até quase que juro que um deles ia no cesto da bicicleta! Normal, né?, mas o que é que queres?, eu ia de turista e achei aquele ambiente espetacular. Com certeza que para eles é só um jardim, mas eu achei aquilo romântico, pronto.

À noite, como já contei, o M. entendeu que havíamos de ir jantar ao Moulin Rouge. Tinha tentado reservar pela net mas, para o próprio dia já não consegiu. Lembrei-me eu “espera lá. Antes de haver internet o que é que fazíamos? Não recorríamos aos serviços do concièrge? Não é pra isso que ele lá está?” Dificilmente se pode dizer que no Ibis há concièrge, mas vá, eu ainda estava no espírito principesco de Versailles e ao senhor da receção vamos chamar concièrge à boa velha moda centenária, ’tá bom? Mais uma vez, ficou provado que a arrogância dos franceses e dos parisienses em particular não passa de um mito. O senhor não só nos arranjou sim senhores lugares para essa noite, como foi de uma simpatia e de uma amabilidade notáveis. Não sei, se calhar era eu que tinha a expectativa muito em baixo, mas agradou-me verdadeiramente. Ía-me engasgando sem ar quando o senhor nos indica o preço, ainda ao telefone com a do cabaret. Imagina: o homem com o telefone numa mão e a escrevinhar com a outra, levanta os olhos do computador para nos dizer entredentes e assim como quem tem a coisa como óbvia “220€” e eu O_O *glup* e ele “por pessoa” e eu começo às pisadelas ao M. que não era nada preciso, que íamos só ao espetáculo se pudesse ser, a sentir-me encalorar, a precisar de despir o que trazia e o homem continuando a falar o seu francês nativo apressado e já sem olhar para nós e o M. mantendo-se, numa de “que se lixe, só fazemos isto uma vez na vida e são os teus anos” e eu, ainda a revirar olhos, mas então tudo bem. Estas coisas deixam-me nervosa, a sério. Mas não posso dizer a-b-s-o-l-u-t-a-m-e-n-t-e nada do espetáculo que é mesmo top. E é quando nos vemos no centro do mundo que olhamos para “casa” e temos que reconhecer que também somos grandes: os do La Feria também são showzaços, digam o que disserem, goste-se ou não do estilo. Este do Moulin Rouge não tem nada a ver, mas as peças que fazem cartaz na Broadway ou no West End londrino não ficam mesmo nada a ganhar a qualquer das produções do La Feria no Politeama, nem em coreografias, nem em cenários, nem em produção, nem nas capacidades dos artistas. E já lho disse, uma vez que fui a um e ele lá andava a receber o público! Acho que até se comoveu! Puxou-me para si “cá beijinho” mas eu não lhe fiz favor nenhum, mesmo, é sincero e não é síndroma-do-pequenote-a-agigantar-se.

Dia dois: o sol continuava a brilhar (foi uma sorte com o tempo!), era perfeito para subir à Torre. Valeu-nos ser 27 de dezembro, estarmos ali entalados, no calendário, entre festividades ocidentais e a maior parte dos turistas ser asiática porque acredito que se assim não fosse, em vez das 3 horas, três!, que esperámos para subir ao topo da Torre, tivesse sido coisa para um rim desfeito com a espera, no mínimo. Se vale a pena a vista? Com certeza que sim. Se é o verdadeiro cliché? Com certeza que sim. Se me senti uma bimbalhona provinciana por causa disso? Com certeza que não. Mas alguém me conhece? Claro que não! E mais: não só subimos ao topo da Torre Eiffel como, já que ali estávamos e até era o dia dos meus anos, obriguei o meu marido a pedir-me em casamento outra vez! Ah-ha, olarilas! Olha…, todo envergonhado que eu parasse de brincar, que não sei quê… “mas estás a sério?” “pois estou!!, anda cá para aqui, vá, toma lá o anel!” “e de anel e tudo?” “sim, sim, sim, sim, ’tá calado e diz!” (eu sou assim um bocado bipolar quando estou a ser imperativa, “está calado e diz”… :|) E ele foi um queriduço e pediu mesmo outra vez para casarmos para sempre e tuditudo. Pronto. Agarrámos nas perninhas e viemos dali embora que a manhã já lá ia!

Logo ali ao lado, atravessando a estrada e descendo até à margem do rio, reservámos o jantar no cruzeiro pelo Sena dos Bateaux Parisiens. Foi só o tempo de irmos – a pé – até ao hotel, refrescar e voltar a sair. O passeio valerá mais a pena durante o dia para quem vai mesmo pela primeira vez a Paris. Se por um lado, com o anoitecer, dá para perceber porque é que lhe chamam a Cidade Luz, por outro, acredito que seja mais proveitoso para quem nunca lá esteve ver os monumentos que se espreguiçam pelas margens do Sena fora com a luz do dia. Como não era o nosso caso, optámos pelo romance, mais uma vez e jantámos a bordo. E comemos muito bem! Muito melhor do que o jantar que nos serviram no Moulin Rouge na noite anterior, comparando. E fomos servidos por uma Julie, como a nossa mas em adulto, outra simpatiquíssima e encantadora. Também não é programa baratucho, mas… eram os meus anos! ;P

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Ao fim de uma hora e meia de passeio, aproveitámos que era cedo e fomos passear a pé, ao longo do Sena, até dar de caras com a imponente Notre Dame toda iluminada e sem taipais por estar em obras de manutenção (iêêêêêêiiiiiii!!):

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Mais uma voltinha por Saint Michel eregresso à super confortável cama alta do hotel logo à saída do metro (àquela hora é que os pés agradeciam verdadeiramente a proximidade do hotel!)

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No dia seguinte, já dia de regresso, ainda tínhamos a manhã para passear pela mesma zona da véspera mas com paragem para fotos no Palácio Real – morada do Louvre, sem pretensão de entrar (fica para outra vez!) – e nas Tuilleries. Almoçámos a sopa de cebola gratinada e a fondue (“a” fondue; é feminino.), falámos sobre os filhos e as saudades que tínhamos deles, se eles também teriam nossas, a pouco e pouco começámos a desligar do modo “a dois” e, à medida que o passeio se deslocava do centro para a periferia e, depois, para o aeroporto, a mente acompanhava e Paris dos encantos e do namoro ia ficando para trás, para outros turistas a aproveitarem.

Nós, trouxemos muito mais de Paris e desta nossa primeira viagem a dois depois dos filhos, infinitamente mais,  do que aquilo que esperávamos… au revoir, Paris!

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