Estou numa daquelas idas ao cebeleireiro que tardam uma manhã inteira. Já consumi as revistas de fofocas todas, já estou quase a ir prá Cristina! Mas entre os números atrasados das fofocas que se amontoam, dei comigo a desfolhar páginas e páginas de publicidade em tons de encarnado ou dourado, muito floco de neve, nas entrevistas, toda a gente aperaltada e brilhante a dizer clichés como “o importante é estar com a família” mas um cenário faustoso atrás e dei por mim a pensar “ainda bem que já acabou”.
Ali em finais de outubro já começamos a ouvir na rádio os primeiros anúncios às campanhas de Natal. Levamos o novembro todo em verdadeiro espírito de consumo, a reboque do que vemos nestas revistas, do que ouvimos na radio, das reportagens típicas da época que passam nos telejornais. É uma injeção. Sinto-me sufocar, mesmo. Nos primeiros dias de dezembro são as fotos das árvores de Natal nas salas dos amigos que enchem o feed do facebook e eu com a sensação do contra-relógio e como que a sentir a obrigação de fazer o mesmo lá em casa, “porque o Natal é das crianças” e eu, que só tenho o J. daí a um fim de semana ou dois, a sentir-me a atrasar-me, que peso na consciência!
Os últimos dias antes do Natal, então, são o caos na rua, no trânsito, nos centros comerciais, só me apetece ficar quieta na minha cadeira à hora de almoço. É o peso na consciência outra vez por não me estar a dedicar aos presentes – por falta de pachorra e muito, também, por achar que isto é um despesismo pegado que, honestamente, me irrita – e por pensar que, de certeza, os meus presenteados estão a dedicar-se às compras muito mais que eu. Pior, a gastar muito mais dinheiro do que é preciso, tremendamente mais do que eu preciso, do que eu preferia.
Olhar para estas páginas de revistas cor de rosa já atrasadas e aperceber-me já de longe deste frenesi, deu-me uma sensação de alívio, do género “uff, ainda bem que já passou!”.
Adoro MESMO ter a família toda reunida, não é cliché. Mas odeio o consumismo, o despesismo, o afã, a correria, a falta do saborear, a culpa por não acompanhar, a necessidade de compensação ao pensar nos presentes. O Natal sem isto é que era!… E ate já existe! Chama-se Páscoa.