Um aperto no coração, uma sensação de culpa, um “mas quem é que teve ideia disto?!” (fui eu mesma), o forçar-me a preocupar-me com outras coisas para não pensar no assunto para não sofrer por antecipação.
Íamos para fora pela primeira vez só os dois, em fim de semana romântico, sem os filhos.
A vontade já tinha meses, desde o fim das férias de verão que andávamos para nos estrear nas saídas sem filhos mas nunca foi oportuno. Chegámos a pedir orçamento para voltar à neve com os mais velhos mas também foi fácil encontrar desculpas para não deixar a Júlia para trás.
De repente uma conversa, em que a A me dizia que ia de escapadinha até Madrid… De repente olhar para o calendário, não ver fim aos compromissos ou ao mau jeito de datas, pensar “cá está o quão fácil é protelar…não pode ser” e marcar. Ou melhor, determinar tudo na minha cabeça mas sem marcar. O marcar ou reservar coisas é muito definitivo. Estou cheia de vontade agora mas daqui a pouco, quando a noite começar a cair e eu ficar presa uma hora no trânsito, já só me vai apetecer estar com eles, lá vou para algum lado sem os dois?!
Valeu o marido que tenho, que é a pessoa com mais capacidade de iniciativa que eu conheço (e que é talvez a característica que mais me apaixona nele), que, mal me ouviu falar en passant do assunto, fez o que eu não fiz, marcou. E mandou- me os comprovativos por e-mail com o subject “agora já está, já não há volta a dar. Vamos.”
Arrepiei-me toda. Se por um lado me pareceu brilhante a ideia de que o primeiro fim de semana fora sem eles fosse no que este ano se colava com o Natal, aproveitando que eles estariam habituados a dois dias de intenso convívio com os avós e as tias para minimizar a estranheza depois quando ficassem com eles, fim de semana esse que, ainda por cima, era o dos meus anos e lá havia maneira mais espetacular e diferente de os passar, por outro lado… eram os meus anos, justamente, e lá cabe na cabeça de alguém passá-los sem os filhos?! Que tipo de mãe sou eu?
Há coisas em que mais vale não pensar muito. De todas as outras vezes antes, tanto pensei na resposta a esta pergunta, que me consomi de dores de alma e acabei por não ir a lado nenhum. Segunda-feira, 21, marcámos os voos, preocupei a cabeça com os preparativos para o Natal até dia 24 e só nessa tarde é que marcámos o hotel para daí a dois dias. As malas, as nossas e as deles (com muito mais torgia que as nossas), só mesmo dia 25 depois da família ter saído e dado o Natal como findo. Eles, aliás, até já tinham ido com os seus pijaminhas e a pender as cabeças de tanto sono com os avós, o que também aliviou o impacto da despedida. Não deu para beijinhos, abracinhos demorados e demais lamechice porque estava frio na rua e os meninos a precisar dos cintos apertados para irem dormir.
Lá foram eles… Lá iríamos nós nessa madrugada… Deixei instruções para ninguém lhes dizer que a mamã fazia anos e fomos.