Quando a II Guerra Mundial acabou, depois de dois ataques nucleares ao Japão, o mundo bipolarizou: EUA e o mudo ocidental de um lado, URSS e seus satélites do outro. No meio, a arma nuclear e a corrida ao armamento, sendo certo que, depois do nuclear, a guerra nunca mais seria igual. A partir do nuclear, que destrói tudo, não só o teu inimigo mas a ti também, ficou certo que nunca mais poderia haver guerra como até ali. É importante ter arma nuclear por uma questão de intimidação, dissuasão, demonstração de força. Mas quem a tem sabe que não a pode usar. Por isso se chamou àquela nova forma de conflito Guerra Fria, porque mesmo armados até aos dentes e mesmo detendo a mais destruidora de todas as armas, os países ou alianças de países, não podiam guerrear se não num nível periférico (movimentando influências nos conflitos dos outros).
O que se passou ontem em Paris foi inédito. Não foi a primeira vez que o mundo ocidental sofreu um ataque terrorista mas foi a primeira vez que ficou provado que basta um plano concertado e meia dúzia de granadas e pistolas bem munidas para fazer tremer quem até detém armamento nuclear. Como a história da formiga e do elefante.
Mais, pela primeira vez o alvo dos ataques foram locais de lazer e diversão. Não alvos geoestrategicos nem centros políticos ou empresariais.
Conto os dias até ao fim do acordo Schengen, esse instrumento preciosíssimo da liberdade de circulação que gerações como a minha e seguintes já dão como adquirida. Já ninguém se lembra de ter que ficar horas no carro na fila da alfândega para ir comprar caramelos. Mas é um privilégio nosso, na Europa (e não em toda a Europa, é bom lembrar). E agora acredito que tenha bastado uma pistola a disparar sem critério numa sala de concertos à pinha para mandar essa liberdade toda ao ar. Não é, definitivamente, preciso ter o nuclear para se ser coercivo. A guerra, hoje em dia, faz-se de outras maneiras e as cócegas de uma “formiga” extremista bem orquestrada bastarão para fazer vergar os “elefantes” de hoje em dia.
