Tenho um estigma: quero encontrar uma boa empregada doméstica e só me calham é princesas. E para princesa estou cá eu, ora bolas!
Há três anos que ando nisto e ainda não acertei com a ajuda lá para casa. Ou não dão para aquilo e eu procuro melhor, ou são tão boas, tão boas, que encontram elas melhor! A dona A. era uma cinquentona de metro e oitenta que andava ali escada acima, escada abaixo feita um verdadeiro furacão e até suava. Era ótima nas limpezas mas não cozinhava porque já era viúva há muitos anos e tinha-se desabituado de cozinhar só para um e mais depressa ia buscar comida ao snack bar lá do bairro do que fazia jantar para si, quanto mais fazê-lo para mim! Cheia de brio, foi-se embora porque a casa era grande e ela estafava-se e não sentia que a coisa ficava lá como ela gostaria (para mim até estava mais que bem!).
Veio outra cinquentona, outra dona A., que era o oposto: cozinhava bem, trazia-me os produtos mais frescos do mercado e da horta dela, era amorosa com os meus filhos, parecia mesmo aquela avó de permanente no cabelo curto, sempre de bata e sapatos rasos e mangas arregaçadas com as mãos molhadas de estar constantemente a mexer na água. Mas nas limpezas era tão lenta que acabava por me sair cara a hora.
Apareceu na minha vida a Super-L., como eu lhe chavama. Ela tinha bom ar, tinha quarenta e todos mas apresentava-se sempre de risco e rimel nos olhos, o cabelo comprido bem penteado, humilde e disponível. Cozinhava maravilhosamente (fazia para fora) e não tinha marido nem filhos pequenos, o que, tendo tanto jeito para os meus, havia de ter sido ótimo para babysitting se um dia fosse preciso. Nunca chegou a ser porque, claro, uma mulher assim, que nunca tinha trabalhado a dias, assim que arranjasse melhor havia de se sacudir, pois claro. Foi para a Suíça aliciada por um namoro que mantinha via Skype… o_o
À P. também lhe chamava carinhosamente “a super-P.”, porque era nova (a mais nova de todas, ainda não tinha chegado aos 40) despachada, super pontual e cumpridora, cheia de iniciativa, com experiência de camareira num hotel, ótima na cozinha (era romena, mas como cá chegou novinha e atrás do namoro, diz que foi com a sogra que aprendeu a cozinhar, portanto o tempero era portuguesíssimo, melhorado com os truques mediterrânicos que aprendeu com uma italiana enquanto fez Erasmus na Alemanha… o_o), cheia de jeito para os miúdos também. Tinha tantos planos para nós, eu e tu, querida P., sabes lá… Antes do verão diz-me que vai de férias dois meses (o_o) para os EUA (o_o) onde estavam os pais emigrados há anos. Ainda lhe disse “oh P., veja lá se em dois meses não se apaixona pra lá por algum americano e depois já não volta…!”, ora…só não acerto no euromilhões. Diz quem viu fotos que ia linda, de noiva e que está hoje toda feliz com o seu americano a viver o american dream.
Deixou-me a S., uma vizinha, que lhe parecia que podia fazer as suas “férias”, mas realmente, a querida S. só dá mesmo para tapar um buraco, tem-me falhado em disponibilidade. Quis encontrar outra “super-qualquer-coisa” e por isso encontrei-me hoje com uma senhora que ajudava em casa de uma vizinha minha que eu tenho por exigente com isto das lides domésticas e que ficou com o filho recém-nascido dela até que ele foi para a escola. Parecia perfeita, certo?
Pois. Não. Ia eu lançada para lhe mostrar as divisões da casa e explicar o que haveria para fazer e diz-me ela “hã… antes de mais, deixe-me perguntar quanto tempo precisaria? É que o meu marido não quer que eu trabalhe. Ele diz que, como eu já tenho dois dias ocupados, que aceite no máximo só mais um!” o_o
Opá, a sério… isto é possível? Ainda deixei escapar um “olha que bom!” quando me disse que o marido não queria que ela trabalhasse e fiquei a pensar “mas onde é que ela o arranjou?!”. O meu avô (1921-1992) é que disse à minha avó (1919-) que, antes de casar, deveria despedir-se dos CTT, onde era menina que comutava chamadas, das poucas profissões que uma senhora podia ter sem cair na vulgaridade, nos idos do INÍCIO DO SÉCULO PASSADO, por Deus!
É só princesas. E eu não sou uma delas. GGRRRR…