Este post é para os meus pais.

Pai, Mãe: OBRIGADA. A sério.

Estava a reler o meu post anterior sobre a escola e dei comigo detida naquela parte em que dizia assim: “Claro que no momento da inscrição me revoltei porque toda a gente na escola ia ter só três disciplinas com que se entreter e eu ir ter mais três que “não eram precisas pra nada”. Mal sabia eu que as ia ter tão presentes hoje, passados 20 anos, e que lhes havia de dar tanto valor.”

E é verdade. Eu dou mesmo valor às escolhas que fizeram por mim quando eu ainda não tinha idade ou maturidade para escolher sozinha e àquilo que tive porque adveio delas. Dei comigo a aperceber-me que não vos digo muitas vezes (nunca?) que vos estou grata por isso.

Obrigada por me terem mudado para a escola secundária em vez de me terem mantido na preparatória naquele ano em que ia haver pela primeira vez uma turma de 7º ano. Foi preferir que “a menina” enfrentasse desde logo a “escola grande”, cheia de matulões maiores que eu, ao conforto de ser a mais veterana na escola dos mais pequeninos, menos sabidolas, menos fatores de risco. Lembro-me da mãe me chamar ao telefone e do pai me dizer do lado de lá, já inscrita e com turma e horário atribuídos, “o que é que achavas de passar antes para a secundária?” Lembro-me de hesitar na resposta. Também a mim assustava o mundo dos “grandes”. Mas acho que respondi qualquer coisa como “não me importava!” e lembro-me da resposta “ótimo, é que tomámos essa liberdade e já te inscrevemos na turma da I. e do M. És o nº 27.” E, como se eu tremesse, tremedo vocês também (adivinho eu hoje, que também sou mãe) mas ainda assim assertivos para não mo denunciar, lembro-me de me acrescentarem “está bem? vá, vai correr bem.” A sério que me lembro disto. E aquilo que vi e aprendi com os mais crescidos só me fez bem de certeza. Eu também escolheria assim hoje em dia para o Manel e para a Júlia. Boa! ;)

Obrigada por terem tido a presença de espírito, que eu aos 16 não tinha de maneira nenhuma, de pesquisarem cursos e saídas profissionais possíveis. Já tínhamos feito testes psicotécnicos (pffff, por favor!…:) ) e já se sabia que daqui não derivaria muito. Mas fazer o quê? Nada!! Eu só lá ia (e fui, verdade seja dita!) por exclusão de partes. Mas foi certeiro, adorei o meu curso. De tal maneira que depois ainda fiz mestrado na mesma área, quem diria?! E obrigada também por me darem a conhecer o ano zero (sabia lá eu que isso existia!) e por, outra vez, me sugerirem cancelar a inscrição na escola e assinar já na universidade. Vivíamos um tempo pós-PGA (Prova Geral de Acesso, quem se lembra?) em que no 12º ano só haviam três disciplinas e no fim o acesso às faculdades era feito através de provas de aferição e específicas. Eu, no tal ano zero, tinha que fazer mais três disciplinas além das obrigatórias, o que me parecia roçar a escravidão, uma injustiça (para dizier o mínimo) quando comparada com os meus amigos que tinham ficado na escola e que só iam ter aulas nas manhãs de dia sim dia não. Mas ó pra mim agora, volvidos os tais vinte anos (ainda nem comecei o rascunho, ainda não me recompus do choque!), a dar valor à dita Cultura Portuguesa! E as vezes que já elogiei ao longo da vida essas aulas extra de Língua Portuguesa e de Introdução à Universidade, que eram as outras duas cadeiras extra? É por causa dessas aulas a mais de Língua Portuguesa que tenho sempre presente a diferença entre há e à, entre demais e de mais, entre senão e se não, entre tantas outras riquezas da nossa língua. Foi nas aulas de Introdução à Universidade que aprendemos, por exemplo, a importância de fazer cábulas – e a diferença entre fazê-las e usá-las, atenção! – porque nos aguça a capacidade de resumo e de identificação de raciocínios a partir de palavras-chave; porque nos ajuda a lidar com a pressão e com o prazo. E usei o que se falava nas aulas de Introdução à Universidade ao longo dos quatro anos de universidade, sim senhora! Dou valor a tudo!

Agora que são avós e que “só” vos compete “estragar” o que eu faço com eles, obrigada por confiarem nas minhas escolhas e nas escolhas que eu faço pelos meus filhos. (E este “só” é necessariamente entre aspas, porque eu acredito que o que os avós fazem com os netos, mesmo que pareça ser “estragá-los”, também entre aspas, é valiosíssimo e contribui em barda para o desenvolvimento deles enquanto seres humanos)

Mãe, pai, olhem pra mim: OBRIGADA.

itos

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