Estão a acordar da sesta com os cabelos húmidos de transpirar, com os olhos papudos e cheirinho a azedo. O melhor cheiro a azedo do mundo!
Das coisas que mais bem me faz é ouvir os barulhinhos que ela faz a chuchar no dedo e os dele a chuchar na chucha. Sou capaz de ficar horas a ouvir aquela linguinha dela a dar a dar e a ver aquele lábiozinho inferior a fazer uma prega e a pontinha da língua a aparecer cada vez mais à medida que ela vai adormecendo e quebrando a força dos músculos faciais.
Lembro-me da minha mãe me dizer exatamente o mesmo e de eu pensar “a mãe é tonta” por não achar possível alguém ficar maravilhado com um tique ou com barulhinhos ou com cheiros de bebé. Achava aquilo normal e que aquilo era só uma coisa que a minha mãe dizia porque gostava muito de mim. Também me dizia que eu devia ser de borracha para ela poder apertar, apertar, apertar sem me magoar. E que eu era a sua vidinha e a sua batata e o seu sangue e o seu ar e a sua patinha. Coisas de mãe tonta!
Mas hoje que sou mãe também, que sou tonta por eles também e que lá me calhou da minha filha chuchar no dedo igualzinha a mim, já percebo perfeitamente o que a minha mãe me dizia. E desconfio que, tal como eu, aquilo era só a maneira (tonta) dela tentar expressar uma coisa maravilhosa que se sente e que dificilmente se consegue por por palavras. Ouvir os barulhinhos deles a chuchar é das melhores coisas que a maternidade me deu.