Trabalhos de grupo

Sou pessoa de cumbíbio mas não sou das que vai à praia nem ao cinema sozinha (a não ser que seja a semana antes dos Oscars e ainda me faltem ver alguns nomeados e mesmo assim, agora com os coelhinhos, já nem isso). Procuro sempre companhia para jantar nas viagens de trabalho e dá-me muito mais gozo trabalhar em equipa do que sozinha. Acho que morria se fosse chefe e tivesse que ter um gabinete só pra mim por inerência do cargo – com quem é que conversava?! Morria.

O ter outros dá-me pica, ajuda-me a por ideias em ordem, a ter ideias! E depois também me aguça o espírito de liderança, que sei que tenho muito, e o de conciliação, pessoa dada à diplomacia que também sou. O gozo que me dá ouvir atentamente até ao fim uma coisa que me parece absurda desde a segunda palavra, tomar consciência de que estou pacientemente à espera da minha vez de intervir para finalmente mandar todo aquele disparate abaixo e sugerir outro caminho com palavras certas, nunca ofensivas, e agradecento o “valioso contributo”… Também acontece de ter que meter a viola no saco quando os outros encontram mais sentido noutra maneira que não a minha, pois claro. Mas também aí acato com facilidade e zero rancor a decisão da maioria. Sou uma democrata!

Tenho saudades de viajar em serviço. É o core do que eu faço. E adoro. Sou das poucas privilegiadas que faz aquilo para que estudou. Mas, agora, com os coelhinhos, quando penso nisto até me benzo! Queridos filhos, como será nesse dia do primeiro embarque sem eles? Morro também! Prefiro o gabinete só pra mim, afinal!

Mas enquanto o voltar a viajar não é real, vou-me lembrando dessa eu que vai para fora, que acerta fusos horários, que combina em inglês jantares de comidas cujos ingredientes mal identifica, que vai à quinta-feira ao karaoke naquele bar daquela cidade que é a minha segunda com as pessoas estrangeiras do costume. Já vou sentindo falta daquelas conversas de circunstância em línguas diferentes e de apreciar se estão mais magros ou mais gordos, se andam mais bem arranjadinhos ou se são os penteados e os adereços coloridos exagerados de sempre. E da simpatia genuína de uns e outros que admiro sempre.

A semana passada precisei muito de me recordar destes sozinhos que se juntam para beber, comer, sair, cantar, dançar. Que têm nas idas para fora uma vida despreocupada de crianças e refeições e compras e lida de casa. Precisei de parar, respirar fundo e de me lembrar que eu também fui (sou? ainda?) um sozinho destes e que também eu sou pessoa de convívios e de trabalhos de grupo para não me mandar tudo ao ar. A minha veia diplomática esteve aguçadíssima sem que mais ninguém soubesse e lá encontrei o caminho da conciliação. Sozinha. Não em grupo.

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